Nessa unidade, estudaremos a América
antes dos descobrimentos. Discutiremos algumas das teorias sobre a presença
humana no continente americano e sua dispersão. Aparentemente simples, são
polêmicas no âmbito das ciências, tais como a Antropologia e a Arqueologia.
Serão apresentadas aqui de modo sintético. Discutiremos as diferentes formas de
organização social das populações autóctones e algumas tipologias
classificatórias. Apresentaremos desde as sociedades ditas tribais até as
chamadas Altas Culturas da América. Muita atenção e leitura são necessárias
para escapar das armadilhas da simplificação. Discutiremos, ainda, o conceito
de índio e estaremos aptos a perceber as diferenças entre as sociedades
indígenas e instrumentadas. Poderemos entender, portanto, as implicações dessas
diferenças no processo de colonização e estabelecimento de sociedades na
América colonial.
Os seres humanos não são originários da
América. Esse é um dos poucos consensos entre os cientistas que pesquisam o
tema. Tem-se na África o berço da humanidade, mais precisamente nas regiões da
África Oriental e do Sul. Os sítios arqueológicos mais importantes e com mais
resquícios da origem dos humanos estão localizados na África do Sul, no Quênia,
na Tanzânia e na Etiópia. No entanto, grandes problemas se colocam. Chamamos a
atenção para três:
1) Saber
como deslocaram-se até a América, separada da Europa e África Ocidental pelo
oceano Atlântico e separada da Ásia e África Oriental pelo oceano Pacífico. São
grandes distâncias percorridas por seres humanos que não tinham muitos recursos
técnicos ou tecnológicos.
2) Saber quando isso se deu.
3) Saber por onde ingressaram no continente.
São questões polêmicas que não são
recentes. Nas últimas décadas, com a intensificação da pesquisa em vários centros,
fortaleceram-se certas hipóteses antes pouco consideradas. Principais teorias
da chegada do homem na América e sua dispersão no território americano.
As diferentes formas de organização da
população ameríndia
As levas migratórias que ingressaram ao
norte da América do Norte, por milênios, avançaram nas direções sul e leste do
continente. Nem todas oriundas dos mesmos grupos, povoaram a América. Os
principais e mais antigos vestígios estão associados à sobrevivência, tais como
pontas de flechas e lanças para a caça e combates. Os grupos empreenderam
formas de organização diferentes. Organizações tradicionais do tipo tribal
coexistiram com outras formas complexas de organização, com clara divisão
social de trabalho e com estrutura de Estado. As tribos nômades e seminômades,
em todo o continente, usualmente adotavam a caça e a coleta como meios de
subsistência, com alguma agricultura também. De modo geral, agricultura e
cerâmica competiam às mulheres enquanto a caça e a pesca aos homens.
Nas sociedades complexas, além da caça e coleta, a agricultura era
desenvolvida e irrigada. Em todas havia líderes religiosos que podiam ser,
também, líderes políticos. As altas culturas ameríndias: organização social Região
Andina Central (América do Sul): Caral, Chavín, Paracas, Moche, Tihuanaco,
Chimu, Tahuantisuyo (ou Inca).
O que é índio?
1) Teoria da Travessia pelo Estreito de Bering: na
última glaciação, entre 100.000 e 10.000 anos atrás aproximadamente, o mar do
Estreito de Bering baixou e congelou, dando passagem a muitas levas de humanos
e animais há 40.000 anos. Finda a glaciação, os continentes ficaram novamente
separados.
2) Teoria dos arquipélagos malaio-polinésios: Paul Rivet diz ter ocorrido a
migração em pequenas embarcações pelo Pacífico, povoando ilhas e indo até a
América, há 52.000 anos.
3) Teoria do Oceano Pacífico: Walter Neves,
pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), vê o ingresso em duas levas –
uma de população negroide, há 14.000 anos, que se extinguiu; outra de população
asiática, há 12.000 anos, ancestrais dos indígenas brasileiros.
4) Teoria do Atlântico: Niède Guidon, arqueóloga
brasileira, afirma ter encontrado vestígios humanos datados de 50.000 anos no
Piauí e declara que sua população de origem chegou via Oceano Atlântico. Notem
que não são teorias excludentes. Todas podem ser verdadeiras. As levas
migratórias que ingressaram ao norte da América do Norte, por milênios,
avançaram nas direções sul e leste do continente. Nem todas oriundas dos mesmos
grupos, povoaram a América. Os principais e mais antigos vestígios estão
associados à sobrevivência, tais como pontas de flechas e lanças para a caça e
combates. Os grupos empreenderam formas de organização diferentes. Organizações
tradicionais do tipo tribal coexistiram com outras formas complexas de
organização, com clara divisão social de trabalho e com estrutura de Estado.
As altas culturas criaram cidades, sistemas de irrigação, cerâmica, metalurgia,
calendários, ensino e escolas, comércio e contabilidade com “impostos” pagos em
produtos ou trabalho. Na Mesoamérica, havia sistemas de escrita e o cacau era
uma semimoeda. Na Região Andina Central houve a criação de animais. Nela,
praticavam a guerra de conquista e construíram impérios. Os pesquisadores
chamam Horizontes a periodização das altas culturas. Viveram e ainda vivem na
América muitos agrupamentos humanos chamados índios. As zonas climáticas e
ambientais habitadas foram e são variadas; diferentes foram as soluções para a
sua exploração. Havia e há muita diversidade.
Observem: é usual chamar todas essas populações de índios, sem
distinção. Essa postura tem origem no equívoco de Colombo, que acreditou chegar
à Índia quando aportou no mar do Caribe, mas não explica a continuidade do uso
desse conceito cunhado no período colonial. A explicação está no modo como os
europeus, desde os descobrimentos, viam os outros: diferentes, primitivos,
inferiores, igualados em seu atraso perante a ideia de civilização e sociedade
europeias da época. Eram vistos ao mesmo tempo como infantis, pobres e
incivilizados, demandando tutela, mudanças no modo de produzir e “civilidade”
ao modo europeu. O conceito índio foi historicamente construído à custa da
dignidade e da vida dos nativos. O homem não é originário da América, chegou a
ela em migrações que ainda estão sendo pesquisadas. Nessas terras viveram e
ainda vivem em sociedade muitos grupos nativos. Antes dos europeus, os mais
simples eram de organização tribal. Os mais complexos, com Estado centralizado
e divisão social de trabalho, formavam, por vezes, verdadeiros impérios. As
sociedades tribais estavam presentes em todo o território e as complexas
concentravam-se na Mesoamérica e nos Andes. As tribais, majoritariamente,
praticavam a caça, a coleta e a agricultura de milho, mandioca, feijão e outras
espécies, ainda produziam artefatos em pedra, cerâmica e fibras vegetais. As
complexas, além disso, apoiavam-se em uma agricultura mais sistemática e
irrigada, construíam cidades e praticavam o comércio. Algumas também
domesticavam animais. Todos esses habitantes foram chamados de índios pelos
europeus, denominação que até hoje perdura. Essas populações ainda clamam por
respeito.
Nessa unidade, estudaremos a América
antes dos descobrimentos. Discutiremos algumas das teorias sobre a presença
humana no continente americano e sua dispersão. Aparentemente simples, são
polêmicas no âmbito das ciências, tais como a Antropologia e a Arqueologia.
Serão apresentadas aqui de modo sintético. Discutiremos as diferentes formas de
organização social das populações autóctones e algumas tipologias
classificatórias. Apresentaremos desde as sociedades ditas tribais até as
chamadas Altas Culturas da América. Muita atenção e leitura são necessárias
para escapar das armadilhas da simplificação. Discutiremos, ainda, o conceito
de índio e estaremos aptos a perceber as diferenças entre as sociedades
indígenas e instrumentadas. Poderemos entender, portanto, as implicações dessas
diferenças no processo de colonização e estabelecimento de sociedades na
América colonial.
Os seres humanos não são originários da
América. Esse é um dos poucos consensos entre os cientistas que pesquisam o
tema. Tem-se na África o berço da humanidade, mais precisamente nas regiões da
África Oriental e do Sul. Os sítios arqueológicos mais importantes e com mais
resquícios da origem dos humanos estão localizados na África do Sul, no Quênia,
na Tanzânia e na Etiópia. No entanto, grandes problemas se colocam. Chamamos a
atenção para três:
1) Saber
como deslocaram-se até a América, separada da Europa e África Ocidental pelo
oceano Atlântico e separada da Ásia e África Oriental pelo oceano Pacífico. São
grandes distâncias percorridas por seres humanos que não tinham muitos recursos
técnicos ou tecnológicos.
2) Saber quando isso se deu.
3) Saber por onde ingressaram no continente.
São questões polêmicas que não são
recentes. Nas últimas décadas, com a intensificação da pesquisa em vários centros,
fortaleceram-se certas hipóteses antes pouco consideradas. Principais teorias
da chegada do homem na América e sua dispersão no território americano.
As diferentes formas de organização da
população ameríndia
As levas migratórias que ingressaram ao
norte da América do Norte, por milênios, avançaram nas direções sul e leste do
continente. Nem todas oriundas dos mesmos grupos, povoaram a América. Os
principais e mais antigos vestígios estão associados à sobrevivência, tais como
pontas de flechas e lanças para a caça e combates. Os grupos empreenderam
formas de organização diferentes. Organizações tradicionais do tipo tribal
coexistiram com outras formas complexas de organização, com clara divisão
social de trabalho e com estrutura de Estado. As tribos nômades e seminômades,
em todo o continente, usualmente adotavam a caça e a coleta como meios de
subsistência, com alguma agricultura também. De modo geral, agricultura e
cerâmica competiam às mulheres enquanto a caça e a pesca aos homens.
Nas sociedades complexas, além da caça e coleta, a agricultura era
desenvolvida e irrigada. Em todas havia líderes religiosos que podiam ser,
também, líderes políticos. As altas culturas ameríndias: organização social Região
Andina Central (América do Sul): Caral, Chavín, Paracas, Moche, Tihuanaco,
Chimu, Tahuantisuyo (ou Inca).
O que é índio?
1) Teoria da Travessia pelo Estreito de Bering: na
última glaciação, entre 100.000 e 10.000 anos atrás aproximadamente, o mar do
Estreito de Bering baixou e congelou, dando passagem a muitas levas de humanos
e animais há 40.000 anos. Finda a glaciação, os continentes ficaram novamente
separados.
2) Teoria dos arquipélagos malaio-polinésios: Paul Rivet diz ter ocorrido a migração em pequenas embarcações pelo Pacífico, povoando ilhas e indo até a América, há 52.000 anos.
2) Teoria dos arquipélagos malaio-polinésios: Paul Rivet diz ter ocorrido a migração em pequenas embarcações pelo Pacífico, povoando ilhas e indo até a América, há 52.000 anos.
3) Teoria do Oceano Pacífico: Walter Neves,
pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), vê o ingresso em duas levas –
uma de população negroide, há 14.000 anos, que se extinguiu; outra de população
asiática, há 12.000 anos, ancestrais dos indígenas brasileiros.
4) Teoria do Atlântico: Niède Guidon, arqueóloga
brasileira, afirma ter encontrado vestígios humanos datados de 50.000 anos no
Piauí e declara que sua população de origem chegou via Oceano Atlântico. Notem
que não são teorias excludentes. Todas podem ser verdadeiras. As levas
migratórias que ingressaram ao norte da América do Norte, por milênios,
avançaram nas direções sul e leste do continente. Nem todas oriundas dos mesmos
grupos, povoaram a América. Os principais e mais antigos vestígios estão
associados à sobrevivência, tais como pontas de flechas e lanças para a caça e
combates. Os grupos empreenderam formas de organização diferentes. Organizações
tradicionais do tipo tribal coexistiram com outras formas complexas de
organização, com clara divisão social de trabalho e com estrutura de Estado.
As altas culturas criaram cidades, sistemas de irrigação, cerâmica, metalurgia,
calendários, ensino e escolas, comércio e contabilidade com “impostos” pagos em
produtos ou trabalho. Na Mesoamérica, havia sistemas de escrita e o cacau era
uma semimoeda. Na Região Andina Central houve a criação de animais. Nela,
praticavam a guerra de conquista e construíram impérios. Os pesquisadores
chamam Horizontes a periodização das altas culturas. Viveram e ainda vivem na
América muitos agrupamentos humanos chamados índios. As zonas climáticas e
ambientais habitadas foram e são variadas; diferentes foram as soluções para a
sua exploração. Havia e há muita diversidade.
Observem: é usual chamar todas essas populações de índios, sem
distinção. Essa postura tem origem no equívoco de Colombo, que acreditou chegar
à Índia quando aportou no mar do Caribe, mas não explica a continuidade do uso
desse conceito cunhado no período colonial. A explicação está no modo como os
europeus, desde os descobrimentos, viam os outros: diferentes, primitivos,
inferiores, igualados em seu atraso perante a ideia de civilização e sociedade
europeias da época. Eram vistos ao mesmo tempo como infantis, pobres e
incivilizados, demandando tutela, mudanças no modo de produzir e “civilidade”
ao modo europeu. O conceito índio foi historicamente construído à custa da
dignidade e da vida dos nativos. O homem não é originário da América, chegou a
ela em migrações que ainda estão sendo pesquisadas. Nessas terras viveram e
ainda vivem em sociedade muitos grupos nativos. Antes dos europeus, os mais
simples eram de organização tribal. Os mais complexos, com Estado centralizado
e divisão social de trabalho, formavam, por vezes, verdadeiros impérios. As
sociedades tribais estavam presentes em todo o território e as complexas
concentravam-se na Mesoamérica e nos Andes. As tribais, majoritariamente,
praticavam a caça, a coleta e a agricultura de milho, mandioca, feijão e outras
espécies, ainda produziam artefatos em pedra, cerâmica e fibras vegetais. As
complexas, além disso, apoiavam-se em uma agricultura mais sistemática e
irrigada, construíam cidades e praticavam o comércio. Algumas também
domesticavam animais. Todos esses habitantes foram chamados de índios pelos
europeus, denominação que até hoje perdura. Essas populações ainda clamam por
respeito.
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